segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Cresce busca de terapia por profissionais do mercado financeiro

No mercado financeiro, ansiedade e agitação são ingredientes do trabalho. Mas, em excesso, podem provocar insônia, variação de peso, exaustão e falhas de memória - motivos que têm levado profissionais aos divãs de terapeutas."Os profissionais do mercado financeiro têm metas muito apertadas, que são muito difíceis de serem atingidas e que exigem maior esforço do indivíduo", observou Sigmar Malvezzi, professor do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de São Paulo.Psicólogos ouvidos pela Reuters disseram que há cada vez mais pacientes vindos do mercado financeiro nos consultórios. Isso é explicado, em parte, pelo próprio crescimento do mercado de capitais brasileiro, com maior volume de negócios e mais pessoas atuando em bancos, corretoras e gestoras de recursos.

O analista Hamilton Moreira, do BB Investimentos, procurou a terapia para controlar a ansiedade, quando a insônia já era recorrente."Tinha dificuldades de me 'desligar' do ritmo de expediente quando saía do trabalho. Agora, depois de dois anos de consultas, vejo que melhorei bastante e já posso dar por encerrado as sessões para tratamento", afirmou.Na maioria dos casos, de acordo com psicólogos, o paciente é tratado sem uso de medicamentos, por meio de terapia cognitiva comportamental e sessões de psicanálise.Segundo a especialista em psicologia clínica e professora da PUC-RJ, Tereza Creuza Negreiros, a terapia serve para mostrar que o universo financeiro não condiz com a realidade fora dele. "Através de reflexões, mostramos que o cotidiano não funciona assim, que sem saúde física e mental não se pode fazer nada", disse ela.

Um dos casos mais comuns tratados por terapeutas é o quadro de depressão."Existem casos numerosos de inapetência e compulsão alimentar. Há aquele indivíduo que passa o dia se alimentando irregularmente à base de café e lanchinhos, que quando chega em casa à noite não tem apetite por nada", aponta o psicólogo Jacob Pinheiro Goldberg."E tem ainda o caso oposto, do profissional que, por passar o dia sem se alimentar de forma adequada, acha que na última refeição do dia tem que compensar essa deficiência alimentar."O número de pacientes que procurou tratamento inicial no consultório de Goldberg subiu 30% no ano passado. Segundo ele, a demanda é maior em momentos de crise no mercado de capitais.

Ao extremo, o estresse atinge níveis tais que passa a afetar o coração e pode ocasionar até derrames. Esses casos mais graves podem ser encaminhados para tratamento psiquiátrico e até com uso de medicamentos de venda controlada."A melhor terapia é a profilaxia cotidiana, cuidar de si, fazer atividade física e, principalmente, não se envolver em uma atividade mental única. Um nível de envolvimento elevado no mercado financeiro pode destruir a vida pessoal e, assim, uma carreira", observou Negreiros, da PUC-RJ.O psciólogo Goldberg indica também a prática de artes marciais para aliviar a tensão do dia-a-dia: "Elas permitem canalizar e extravasar a agressividade sem transformá-la em destruição".